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Professor da EACH faz primeira descrição de animal de corpo mole com microtomografia computadorizada
Postado em 26 de abril de 2016
Pesquisa liderada pelo professor Fernando Carbayo, do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza da EACH/USP, conseguiu pela primeira vez na história da ciência descrever uma nova espécie de animal com corpo não mineralizado utilizando a nova técnica da microtomografia computadorizada. O estudo foi publicado neste mês nas revistas científicas internacionais Zoologica Scripta e GigaScience, contando com a participação de outros pesquisadores, entre eles Tiago Maurício Francoy, que também é docente da EACH. O trabalho foi publicado no mesmo número da revista junto com outro artigo em que os autores, Tessler e colaboradores (do Museu Americano de História Natural), apresentam um estudo semelhante com sanguessugas.
A nova técnica foi colocada em prática quando o professor Carbayo pretendia estudar planárias coletadas em 1920 e que estavam depositadas no Museu Nacional do Rio de Janeiro. “Na época, o cientista Paulo Schirch fez uma análise muito sucinta do material. Ele não conseguiu estudar a morfologia interna das novas espécies de planárias que descreveu porque não fez os cortes histológicos”, explica Carbayo.
Os cortes histológicos fazem parte da técnica tradicional em que o animal é cortado em finas fatias, transformando-se em um conjunto de cortes finos (7-12 mícrons, sendo que um mícron equivale a um milésimo de milímetro) estendidos sobre lâminas de vidro para a observação em microscópio. De acordo com o professor, a técnica histológica é “destrutiva porque o animal passa por diferentes reagentes, passa por parafina, é cortado e corado; ou seja, é muito modificado”.
Sabendo da importância histórica do material de Schirch, Carbayo queria estudá-lo de uma forma não destrutiva, segundo ele, evitando os cortes histológicos para deixar a planária intacta. O professor soube que na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, pesquisadores estavam avaliando a microtomografia computadorizada para essa finalidade e, com apoio da FAPESP, ele resolveu passar dois meses na universidade para testar a nova técnica com uma espécie recentemente coletada.
A microtomografia consiste em adquirir imagens de projeção de raios X em diferentes ângulos de um mesmo material, convertendo esse conjunto de imagens, por meio da computação gráfica, em imagens 2D e 3D. A técnica funciona como uma tomografia comum, mas capaz de analisar estruturas extremamente pequenas (entre 5 mícrons e 0,35 mícrons). A vantagem é que essa técnica não é destrutiva e conserva o animal como ele está. Para tanto, é preciso impregnar os tecidos do animal com alguma substância que seja opaca ao raio X, como o iodo por exemplo.
De acordo com o professor Carbayo, as imagens obtidas pela microtomografia computadorizada “substituem em quase sua totalidade as imagens fornecidas pela histologia, com a grande vantagem do animal ainda estar intacto e poder ser utilizado em futuros estudos, com técnicas mais avançadas e que ainda não foram desenvolvidas”.
Por meio da nova técnica, foi possível descobrir uma nova espécie de planária brasileira. Acreditando ser uma espécie que ainda não havia sido descrita, o professor coletou-a em Paranapiacaba, em Santo André, e a levou para os testes em Harvard. A planária é do gênero Obama e seu nome tem origem na junção dos termos Oba (folha) e Ma (animal), em Tupi; é uma referência à forma foliácea dos animais deste gênero.
No Laboratório de Ecologia e Evolução na EACH, o professor armazena centenas de planárias, coletadas em sua maioria no Brasil e no Chile, que ainda serão estudadas por meio das duas técnicas. Aqui no Brasil, Carbayo começou a fazer testes e ajustes no microtomógrafo do Museu de Zoologia da USP, que recentemente adquiriu o aparelho.
Embora a microtomografia não seja tão acessível – pois demanda um computador de alto desempenho para processar as imagens, que chegam a 60 GB, e o microtomógrafo custa aproximadamente 200 mil euros -, o professor destaca que a tendência da ciência é usar cada vez mais técnicas não destrutivas e que preservem as condições e características do material que é estudado.